euventura

Linguagem como termômetro da consciência

Uma das consequências de se aprofundar e aprender outra língua é a oportunidade ou talvez até necessidade de se aprofundar na sua própria língua. Se relacionar em quais partes temos mais sofisticação e quais somos mais rudimentares e, com um pouco de atenção talvez, perceber a relação da linguagem com a cultura e a consciência de um povo.

E é necessário porque precisamos dialogar e acomodar conceitos entre os dois mundos, se parar para pensar, por mais poliglota que possamos ser, sempre existe uma base referencial na língua e cultura mãe. Sempre teremos um viés. Dificilmente um brasileiro vai falar qualquer outro idioma sem algum recurso de expressar sentimento. Línguas onde entonação e controle emocional são exigidos para ser entendidos como o japonês, o sânscrito, são complicadas para nós latinos, que por mais sutil que avô e avó soa para o ouvido, na maioria das vezes estamos escutando muito mais o que a pessoa quer expressar do que quem é de fato o sujeito.

Bem, eu preciso trazer expressar duas palavras deste verso:

ekaa ahamkritih anyaa syaat / antahkarana roopinee.

ahamkritih e antahkarana. Antahkarana significa aparelho interno, ele se refere a nossas capacidades de memória, de discernimento de compreensão. Em certo sentido vai entrar força de vontade, retidão. Essa é até mais fácil, claro que para uma só palavra nem tanto. Mas o bom é que não temos nenhuma palavra que sintetize isso então é necessário explicar. mas Ahankritih que está flexionando ahankara, aquele que faz, o fazedor, o Ego. Mas o Ego aqui é diferente do aqui aí, é perigoso. É uma palavra que é fácil dizer eu entendi, e não entender nada e se manter mergulhado em si mesmo, então como traduzir "aquele que faz" em algo que não seja ego ?

Nesse momento percebemos quão sofisticado eram os antigos na vontade de entender a si mesmo, de entender que existe o antakarana, se existe o aparelho interno, se a memória e o discernimento são objetos, quem é o sujeito ? Se eu não sou a mente, e logo não sou o corpo, quem sou eu ? Esse [e o caminho que a sofisticação de um povo que estudou a si mesmo.

Como acomodar tamanha transcendência, tamanha complexidade de conceitos que uma civilização adquiriu por eras e mais eras condensado em conceitos, e agora querendo desenterrar isso e encaixar em uma civilização materialista, determinista, sem fé. Por isso, se aprofundar em outra língua te faz criar recursos absurdos, te faz caminhar por lugares absurdos para acomodar o inacomodável.

Eu ia traduzir ahankara como "natureza material", mas é um absurdo de genérico, apesar de ter certa elegância eu achei meio feio. Ai eu fui para "matéria enquanto realidade última", passei a mão e tirei o última: "matéria enquanto realidade". Eu achei quase, mas preciso urgentemente tirar uma palavra dessa definição. em um dos versos encaixou assim com a palavra a menos

A identificação da consciência refletida com a realidade marial, é similar à identificação do ferro que ganha luminosidade pela ação do fogo. Este sendo iluminado trás as características da consciência para a realidade material.

Ai eu achei massante e repetitivo. Ai eu coloquei o primeiro como EGO ou seja ... reletida com o ego... e resto ficou como ficou, mesmo sendo a mesma palavra. Agora eu preciso analisar todas as aparições da palvra e rejulgar minhas escolhas.

Nitai Gaura Hari Bol (por essa você não esperava)