Ai amiga
Ai amiga, eu acho que é isso, o mesmo sentimento sendo explicado por outro viês. O sentimento que "eu já contribuí pro mundo", já transformei o que precisava transformar, não preciso mais fazer parte deste projeto de mundo novo, posso me manter como um exemplar, como um museu.
Não preciso me expressar por figurinhas, eu não preciso fazer danças, mostrar tudo que eu vejo para o celular, gravar minha vida. Eu tenho o direito de preservar um outro conceito de mundo, ao mesmo tempo que assisto perplexo as decisões da nova geração, talvez como meu pais assistiam perplexos as minhas decisões. Acho que é isso a beleza de envelhecer.
Nesse sentido, para minha experiência masculina de mundo, me parece tão curiosa a ideia de "esconder idade", plasticas, procedimentos estéticos. Me dá tanto orgulho ter feito tudo que eu fiz, me da orgulho carregar as marcas de uma vida vivida.
Meu processo atual é o processo da minha vida. O porque deste movimento de entrar e sair de um monastério. É algo realmente complexo de explicar, mas divertido de tentar. O sentimento é o seguinte: Dentro de mim existe uma questão de entender o que é a vida, como funciona de fato o "processo da vida". Passei anos procurando resposta. Até entrar no monastério e dedicar alguns anos gastando toda meu tempo e energia construindo habilidades necessárias para enxergar essa questão. Assim como para ver bacterias precisamos de um microscópio, para entender a realidade é necessário estabilizar a mente, forjar os sentimentos, aprender a focar, aprender a controlar corpo e respiração e por ai vai... E com essas habilidades eu alcancei um patamar onde eu consigo existir de uma forma satisfatória. Onde eu tenho uma relação muito mais honesta com a realidade comparado com a loteria que eu vivia até então.
Dito isso, é necessário dar manutenção neste processo, por isso fui pra índia, pro monastério de novo, para dar manutenção neste processo e ver se eu já consigo abandonar de vez o mundo material, mas realizei que ainda não é hora, preciso viver outras coisas até conseguir renunciar a matéria. hahaha em resumo é isso. Eu voltei pra casa.
E no momento eu realmente só estou procurando simplicidade. Quero comida simples, casa simples, vícios simples, relacionamentos simples. Porque eu descobri que a complexidade está dentro, quanto mais simples for ao redor, quanto menor a quantidade de questões para lidar, com menos flutuações emocionais é possível mergulhar na complexidade interna do ser e ter paz. Por isso, em resumo eu preferi me afastar em quem tem prazer nesses jogos emocionais, prazer em apostas e especulações em questões afetivas. Eu quero me relacionar com quem coloca tudo na mesa sem letras miúdas.
Esse é meu processo, o processo de reduzir a finitude da vida pra ver ela infinita, como ela é.
Um beijo